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Um Rei sem reino num mundo sem janelas, vivendo e mastigando a carne podre da rotina.

domingo, agosto 30, 2009

Geraldo

Augusto seguia firme em suas metas para o ano novo; a lista de sempre no armário da cozinha. A semana estava difícil; problemas no trabalho, intimações cobrando comparecimentos, contas atrasadas, a energia estava por um fio literalmente.
Não era a vida esperada por alguém que anos antes era bem cotado em todos os “setores” da vida, como ele mesmo falava. A louça em cima da pia, alguns restos de marmitas pela mesa, um pé de sapato ali, outro aqui... Homens geralmente são desorganizados, contrários a faxinas, vassouras...

(...)

Descendo aquelas escadas úmidas, quase escorregou na afobação de um encontro depois de anos-luz de solidão.
Não esperava por alguém tão jovem, ela não aparentava mais de 22 anos, estava sentada, folheando um guia de tv a cabo... Cabelos ora pretos, ora castanhos na altura dos ombros, pele sardenta...
Augusto se aproximou rodeando o banco e pensando o que falar:
- Olá! Acho que você é a... – Num instante, fora interrompido:
- Sim, sou a Sabrina... Como vai você?
- Pra falar a verdade, meio confuso com essa situação.
A “situação” em si era complicada, uma moça mais jovem, um problema a ser resolvido, além de uma atração mútua no ar, no entendimento dele é claro. Sabrina não era o tipo “gostosa”, mas possuía um charme incomum, era de altura média, bochechas vermelhas, unhas bem feitas, vestia calça jeans surrada e uma jaqueta preta com camiseta branca por baixo, trazia consigo uma mochila em tons de cor militar.
- Te entendo Geraldo, o problema é que também sou vítima dessa situação, como você mesmo chamou o problema.
- Não tô jogando a culpa em você, mas você sabe né...
- Sabe o quê?
- Te conheci numa sala de bate-papo, tava meio bêbado, daí eu achei que...
- Ah sim, não precisa terminar... Esqueça isso, sou resolvida...
Após alguns instantes de conversa, o clima antes calmo, se tornou mais denso, com esquivas tentativas de Augusto na aproximação com a moça. A jovem sardenta logo foi ao ponto, e questionou sobre o que seria Ettus.
- Não faço idéia, só tomei conhecimento disso através de você.
Sabrina já nervosa o entregou um desenho primário:
- Não sou uma artista, mas dá pra entender...
- Como eu disse, não conheço esse tal Ettus, minha intenção era só um encontro...
- Assim fica mais difícil... Não haverá um encontro sem me dar informações... – Sabrina havia se comprometido a dar uma colher de chá ao rapaz se ele ajudasse em sua tal pesquisa. O cheiro do perfume barato da moça mexia com a imaginação do cara.
- Entendo você, mas realmente esse assunto não me interessa. Tive, recentemente, problemas com a Polícia e não quero mais confusão. Vasculharam a minha vida por causa de um bilhete...
- Fique tranqüilo, Augusto!
Choveu por vários dias, a cidade estava coberta por uma cortina de neblina. Faziam 12º C conforme o relógio da praça informava. Em frente a eles, haviam um bar desses em que os jovens descolados da cidade se encontram. Lá dentro a névoa do cigarro predominava. Augusto pensou em convidá-la, mas não tinha coragem. Definitivamente seu tempo havia passado.
- Bem, acho que eu vou indo... Está tarde!
- Onde estão os seus modos Augusto? Não vai me convidar pra um café...
- Só tem um bar ali né... Se não se importar – disse Augusto com um riso na face.
Os dois se levantaram e atravessaram a rua. De mais perto a névoa parecia mais densa, muitas moças dançando, alguns caras na porta fumando e com um drinque qualquer na mão...
Não havia um lounge, só amontoados de mesas e um pequeno palco onde três caras tentavam um Plush, do Stone Temple Pilots. Augusto pediu uma cerveja e perguntou se Sabrina o acompanhava...
- Prefiro um Martini, Gú... Posso te chamar assim?
- Sim, sem problemas...
Bebida servida, ali começava um hiato na conversa. Por dez minutos nada foi dito. Os dois ali de costas pro balcão, olhando para o palco... Dessa vez a banda tirava Boys Don’t Cry do The Cure.
Sabrina era controversa, em alguns momentos parecia estar flertando; outras saia totalmente do ar. Já passavam das 00:15 hs, e Augusto já estava entediado.
- Sabrina! Eu recebo essas mensagens desde janeiro passado.
A moça já batia palmas com as baladinhas executadas...
- O que você disse?
- O que você ouviu... Recebo mensagens há oito meses. Não sei de onde veio, mas isso tem me causado problemas.
- Ué, mas você deveria ser mais cauteloso, no primeiro bilhete que recebe já quer parar o mundo. Mas entendo a agonia, por isso quero te ajudar... Mas agora vamos curtir a noite. – Sabrina deixou o copo no balcão e foi dançar.
Augusto permanecia imóvel, já na 4ª cerveja, mais à vontade resolveu aproveitar aquela noite, a primeira em muitos meses...
Relógio despertando, lá fora o barulho dos carros anunciavam que o dia amanhecera. Uma dor de cabeça terrível, uma vontade imensa de um copo d’água...
Augusto ali na pia do banheiro, olhou pela janela e via o mundo acordando guardou sua escova de dente no armário, muito sujo por sinal, conferir a barba por fazer e pensou na noite anterior...
“Menina linda aquela... Pena que você foi burro”.
Enquanto caminhava para a cozinha, algo lhe chamou a atenção...
- Peraí, ela me chamou de Geraldo?

sexta-feira, agosto 28, 2009

Andante

Felicidade passa na rua debaixo;
Portas abrindo ao teu sorriso.
Ouço o salto alto, o zíper abrindo.
Deixa pra lá, a minha eu laço.


Felicidade passa por mim;
Sinto mas não vejo,
Vejo meus erros ainda aqui,
Sua calda azul... Sem rastro.


Preciso disso.

quinta-feira, agosto 27, 2009

A falta que você faz

Quantas cartas?
Quantas madrugadas?
Quantas árvores e abismos?
Quantos mistérios;
Serão necessários... Para uma nova carta?


Anônima como a estrela,
Que brilha por lá, não mais aqui...
Não precisamos de coragem,
Nem de vidraças atiradas em pedras..


Sinto falta daquela prosa.

terça-feira, agosto 25, 2009

97 cartas e um funil

Tantos espinhos, tantos perfumes...
Estou lendo e não percebo;
Nas entrelinhas a gentileza...
Que planto tão bem, mas colho só a semente.
Tantas letras agrupadas, e não formam a trilha.


Pedaços de carne; pele morta.
Ficam nas paredes, nas entranhas do abismo.
Refaço quadros, reviro minhas caixas.
Rego a flor na tela; ela não é minha.
Leio 97 cartas... Você em todas;
Hálito doce, voz suave que ainda ouço aqui.

quinta-feira, agosto 20, 2009

Violão de Nylon

Sexta se aproxima, como o esquecimento...
Sexta chance eu tenho, para manter o pensamento.
Sexta se aproxima, logo na esquina...

Sem espaço para correção,
Sem margem de erro,
Uso a rima do refrão.

domingo, agosto 16, 2009

Seus Limites

Você fala das coisas, cita tantos profetas...
Antigos, passados... Em demasia; esquecidos.
Mas me cobra respostas, que procuro aqui.
Não seja a vidraça, não a culpe...
É só uma passagem; uma etapa.


Tire esse peso daí, você é a mais linda;
Não tema o outro lado, pode ser só um começo.
Esqueça o oásis, esqueça as canções.
Jogue seu olhar debaixo do tapete,
Migalhas que sustentam nossos medos,
Nossas manhãs em claro... Nossos beijos sem fim...


A coragem é a pedra, o limite a vidraça,
Espere o dia amanhecer, falta pouco...
Talvez seja apenas uma janela.



dedicado a um elfo, um anjo que numa manhã me acordou.

sexta-feira, agosto 14, 2009

O vento da fortaleza

Leva a noite e a sua sombra.
Leva meus sonhos e planos...
Leva seus quadris, leva seu suco.

Leva o tempo, a minha lista.
Leva meu ânimo, meu fôlego.
Leva a Morena descalça,
Leva ele dela, ela de mim...

Leva a visão do surdo,
Leva a matriz do mundo.
Leva meus dias...
Levo um tempo pra assimilar.