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Brazil
Um Rei sem reino num mundo sem janelas, vivendo e mastigando a carne podre da rotina.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Dipirona Sódica

Sinto meus nervos doloridos.
Minhas pernas bambas ardem;
Voltei atrás ontem.
Cortei seu assunto sem que soubesse,
Não posso ser assim;
É só uma necessidade.


Minha cabeça coça, tomei 30 gotas há pouco.
Corro atrás do que perdi;
Nem notei que não está mais aqui.
Vou embora, não tenho ânimo para concluir.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Eu acho

Suas idéias macabras!
De onde as tirou?
Pensa coisas sobre meu ser;
Meu caráter é melhor que isso... Eu acho.


Fazer-te sofrer?
Nunca faria isso!
As lágrimas não fui eu quem derrubou!
Ao contrário, ajudei você a enxugar...
Não sofro mais por você... Eu acho.


Seus amigos te fazem bem...
Corra pra eles, suma daqui.
Quando sofrer, peça abrigo em seus braços
Não preciso mais de você... Eu acho.

Canção de Ninar

Venha pra cama!
É hora de deitar, sonhar...
Venha comigo, preciso dos seus quadris;
Eles me confortam.
Eles me acolhem...


Deite-se aqui comigo;
Esfregue-se em mim, faça aquelas coisas...
Aquelas coisas que me fizeram entrar aqui.
Faça só mais uma vez.


O que há com você?
Não passa nada de bom na TV,
Venha cá, venha me acalmar.
O jantar está se ajeitando,
Minha úlcera nem dói mais.

Clausura

Ainda ontem, eu li aquele bilhete.
Confesso um segredo: eu chorei...
Nunca lamentei o “nós”, nunca despistei.
O esforço por uma cara sóbria, tenra; acabou.
Saí daqui ontem, forte, lúcido e triste.


Não sei os motivos, as razões.
Apenas estou aqui, de novo; com frio.


Fico feliz por seus planos.
Suas metas serão cumpridas, mas as minhas não.
No fundo, você sempre mereceu mais do que eu.
Foi mais capaz, mais forte, mais “no alvo”.
Eu me perdi nas minhas hipóteses;
Eu me perdi em suas falas feitas.

Ainda ontem, eu li seus versos falsos...
Suas vontades de permanecer aqui...
Dentro...
Não sei o resultado disso tudo,
Mas sei que não estarei, aqui, no final.

terça-feira, janeiro 23, 2007

A Explosão, o Corpo e o Envelope




Mesmo não sendo uma pessoa que sentisse ou sofresse, Juliano realmente havia tentado ser amigo de Ruben, mas o comportamento arredio do “velho” era algo impossível de se penetrar.
A testa do jovem delegado ardia em sangue, ainda tonto pela pancada, talvez uma calota do Santana, ou qualquer outro estilhaço, da explosão.
Depois de alguns minutos os Bombeiros, chegaram ao local, podia se avistar a distancia a nuvem de fumaça que cobria o pátio da Delegacia. Juliano se levantou e tentou recobrar os sentidos, se escorando em uns dos carros, pôde ver o seu VW Gol 2003, com o pára-brisa estilhaçado, mas ele lamentaria aquilo depois.
Um homem do Corpo de Bombeiros se aproximou:
- O que houve Doutor?
A cabeça de Cláuddio estava zonza, ele tentou falar algo, mas não conseguiu.
O Bombeiro iniciou suas instruções:
- Bem, acho melhor o senhor se sentar ali... Hei! Atendimento! Aqui temos uma vítima!
O Bombeiro ainda tentava imaginar, conspirar, mas nada dos seus 20 anos de experiência podia lhe ajudar.
- “será que foi algum atentado?”.
Após correr o olhar pela cena o homem olhou para Juliano e se apresentou:
- Sou o Sargento. Souza, do Corpo de Bombeiros.
Nessa altura, os outros Investigadores já estavam a postos, com suas armas prateadas, desfilando pela rua que dava acesso à Delegacia. Haviam alguns homens deitados no chão e sendo “revistados”, mas eram os pedreiros que trabalhavam na obra ao lado. Como sempre, a Polícia, demonstrava despreparo, em situações extremas.
O teto branco seguia com suas luzes fluorescentes e alguma coisa lhe picava o braço. Talvez uma seringa, ou soro. Uma coisa é fato, o ferimento na testa de Juliano, era muito grave.
- O que houve enfermeira?
- Uma explosão na Delegacia, parece que o Doutor Ruben tentou se matar dentro do carro...
- Não foi isso, não foi.
- Deite-se, o senhor precisa de cuidados.
Juliano estava voltando ao normal, percebeu que se encontrava no hospital, sua cabeça; estava enfaixada e ele já não sentia tanta dor. A maca onde ele estava adentrou num quarto, ele ouviu choro de criança ao fundo. Uma boa sensação lhe cobriu o corpo, a dor havia amenizado e uma moleza súbita o tomou, sua visão ficou turva e ele apagou.
O sol escaldante consumia a vasta calvície do Sargento Souza, dois Investigadores ainda faziam ronda como Militares, ao invés de tentar averiguar possíveis causas pra explosão do veículo. Souza olhou em volta do Santana já sem chamas, não havia sinais de projéteis, combustível ou nada que pudesse causar faísca ou incêndio, só um espectro dentro do carro, um corpo carbonizado.
O que mais lhe chamou a atenção foi um gemido ao fundo, vindo de trás de uma GM Blazer...
- Arrrgh!
- Eu não acredito!
Ruben Rossi rastejava com o braço esquerdo ensangüentado. Tentava balbuciar algo:
- Meu braço...
- Doutor, cuidado! Deixa “eu” ajudar o senhor.
Uma ferida cobria o braço do Delegado, profunda e retalhada, como se algo tivesse sido arrancado de seu corpo. Aquela cena assustou o Bombeiro, mesmo que já tinha visto todos os tipos de mutilações possíveis e impossíveis.
- O que aconteceu?
- O seu carro, ele... Explodiu de maneira súbita...
- Mas, como assim? Você viu alguma coisa?
- Não! O pessoal lá de dentro, ouviu a explosão, mas... Mas o senhor estava lá dentro?
- Acredito que não... Hahahaha!
Uma gargalhada foi ouvida.
- Se eu “tivesse” lá dentro, estaria morto... Ai meu braço, preciso de socorro!
Outra ambulância que estava no apoio, levou o Delegado até o Hospital. Souza não entendia o que havia acontecido. Do local da explosão ao onde Ruben estava deitado, havia uma distancia de uns 15 metros. Pra ele ter sido arremessado ali, o seu corpo teria que romper o capô do carro, e isso não aconteceu, nem sua estrutura óssea agüentaria.
Souza se perguntou: “de quem é o corpo lá dentro, então”?
- Sargento, o que o senhor me diz?
Um homem de meia idade estendeu a mão e cumprimentou o Bombeiro, trazia consigo um rosto surrado e forte hálito de café.
- Me desculpe, sou o Investigador Najas, trabalho nesse “DP”.
- Ok, ao que tudo, houve falha elétrica. Não existe nenhuma outra causa plausível, nesse momento. O carro é à gasolina comum... Muito estranho, talvez o calor... Não sei, a Polícia Técnica poderá esclarecer isso melhor.
- Bem, vamos ver né!
O Sargento sentiu certo descaso nas palavras do Investigador. Após isso, ele viu que não tinha mais nada a fazer ali.
A notícia logo correu, no Hospital, moradores buscavam notícias sobre a liderança da Polícia Civil, da cidade. Em meio ao tumulto, um braço forte conseguiu chegar até a portaria.
- Perdão senhor, mas não poderá entrar.
- Que pena, mas preciso ver um paciente. É realmente urgente.
- Terá que voltar na quarta-feira.
- Olha mocinha, você é tão gatinha, poderia me deixar entrar. Ninguém precisa saber, será um segredo nosso.
A jovem recepcionista olhou o homem, com um misto de nojo e pena...
- Já lhe disse, só na quarta-feira!
- Bem, não tenho escolha. Faça-me um favor, entregue isso a ele. O seu nome é Ruben Rossi.
- Ah! O Delegado. Entrego sim.
Um envelope amarelado, com certo peso. Havia uma etiqueta: “A/C R. Rossi”.
- É sobre um assunto muito importante.
- Ok, será entregue assim que ele estiver em condições...
- Muito obrigado, e desculpe a insistência.A moça voltou a analisar o homem, e viu que era um “bom partido”, ela tentou ser amável, mas ele já caminhava pra fora do Hospital

A Morte de Rafael Rossi


As condições daquele trecho da pista nunca foram boas, ainda mais com a notícia do acidente envolvendo o repórter Rafael Rossi. Toda a imprensa da região estava alvoroçada, querendo respostas, fabricando perguntas.
A Polícia Rodoviária havia interditado uma pista, pois, os destroços cobriam a paisagem. O trânsito piorava devido à curiosidade de alguns motoristas que quase paravam pra ver o carro capotado. No meio de algumas pessoas, um Guarda tentava manter a cena do acidente preservada.
- Vamos, qual é? Não tem nada de mais... Só mais um apressadinho...
A enorme barriga do homem, junto com seu hálito de frios, mantinha o pessoal distante do carro. Ele ficava gesticulando todo o tempo, ao fundo viu um carro estacionando no acostamento, podia ver escrito, “Imprensa”.
“Lá vem encrenca”
O homem resmungou algo e acenou com o braço negativamente. Ele sabia que a “molecada” – como alguns os definiam - do jornal era destemida, às vezes até irresponsável em busca de fatos.
- O que querem aqui?
Um jovem com as calças sujas e a barba por fazer, bateu no ombro do Guarda.
- Ah! Marcos, qual o motivo de tanta aspereza?
- Não toque em mim. E não se faça de bobo!
- Tudo bem! O que houve aí?
- Nada, só mais um acidente. Mais um apressadinho tentando subir o barranco...
Aquela cena de destruição era mais uma na vida de Marcos: estilhaços; corpos mutilados. Mas a cada acontecido, ele se sentia vazio, sempre em situações assim, se perguntava: “recolher pedaços de gente, isso é trabalho?”.
Diversas vezes, a Polícia deixava de lado sua função; patrulhar, pra atender as vítimas, prestar primeiros socorros, e até mesmo, recolher cadáveres.
- Só uma palavra pra minha história...
O repórter insistia em tirar algo de Marcos.
- Qual é Gabriel? Não existe história. É só mais um acidente, caralho!
- Calma, amigo! Temos uma boa manchete aqui... Um carro sobe um barranco, num trecho de linha reta, capota e o motorista morre sem nenhum arranhão? Pode não gostar de mim, nem do meu trabalho, mas é coisa estranha, esse acidente, não é?
Marcos concordou no inconsciente, mas suas palavras, não:
- Vai, tire as suas fotos e suma daqui!
Gabriel sentia-se o dono dos fatos, sua mania de grandes conspirações o atormentava e ele, adorava isso. Realmente, os dias estavam sendo difíceis, a grana tava curta, problemas de saúde, uma anunciada demissão, tudo isso preocupava o homem. Com tantos “contras”, ele havia prometido a si mesmo, que cada matéria, deveria ter tratamento especial.
“Bem. Não há sinal de freada, de veículo algum. A impressão que tenho, é que algo surgiu na pista... Um animal talvez. Pedestre não”.
Algumas fotos foram feitas, mas Gabriel não entendia. Por um momento ele pensou em suicídio.
“Só pode ser isso, se bem que seria mais fácil jogar o carro na ribanceira, ou um tiro na cabeça, ou veneno...”.
Sempre que uma história se mostrava misteriosa, o Repórter caminhava pro lado mais sombrio. Essa atitude sempre gerava desconforto no Meio, era comum alguns colegas se afastarem de Gabriel. E isso piorou, quando ele escreveu um artigo pra uma revista de circulação regional, sobre o E.I.X.O., isso gerou mal-estar. Já que esse assunto era ridicularizado, o artigo foi considerado pirotécnico, por muitos jornalistas; conhecidos ou não de Gabriel.
A Imprensa, antes contestadora, havia se trancado em seu castelo e se tornado uma marionete de si mesma. Mas desde que os acontecimentos relacionados ao E.I.X.O., vazaram, e ficaram famosos, foram instalados “filtros” em diversos meio de comunicação. “Devemos ter responsabilidade do que publicamos” - esse era o slogan. De tão absurda, essa história era tratada de maneira folclórica, se tornou um mito, como: Chupa-cabras, E.T. de Varginha. A elite da Imprensa “independente” se recusava a retratar isso, e quem partia pra esse lado, era simplesmente excluído do Meio.
Gabriel fez doze fotos, hesitou em olhar o corpo dentro carro, de certa forma, Rafael Rossi era um ídolo, já que além de Gabriel, era o único que dava devida atenção aos muitos fatos que se passavam no país. Olhando o velho Fusca, ali capotado, a consciência lhe perguntou, “só dois, um morto e outro vivo”. Um súbito misto de medo e desconfiança, o abateu.
Mas aquilo, seria lembrado depois.

A Revelação



Caía uma neblina junto com a noite. O carro novo do Jornal local se arrastava pela pista, as condições eram boas, mas o motorista sentia-se exausto... Andou por mais de 20 km, com o carro em 3ª marcha. Gabriel fez o trevo da cidade e se perdeu em pensamentos.
“Será que o Rafael se matou? Onde estão os motivos? Caralho, o cara ia escrever um artigo na Veja, enfim, tantas coisas seriam explicadas, é muito estranho tudo isso. Agora o “puto” vai e morre”.
Certas coisas na vida de um homem, são prioridades, e o artigo que Rafael escrevia pra Veja, era algo aguardado por Gabriel, a revista, que já tinha sido a Bíblia da imprensa nacional, havia caído num abismo sem fundo, e mesmo sendo um assunto pouco levado a sério, o E.I.X.O., era considerado o último tiro daquela espingarda, que antes já tinha sido decisiva em muitos escândalos “brasilienses”. A cada edição, era anunciado o tal artigo. Mas isso, definitivamente, nunca aconteceria.
Gabriel estacionou o carro, e logo agarrou o filme. Ficou alguns minutos trancado no veículo... Ele tinha fotos, mas não uma história, aquele era seu último trunfo. Por uma escada surrada, se via a redação do jornaleco; sete heróis ainda suportavam o velho Freitas, que era o redator, editor e dono da “Tribuna do Dia”. Todos os jornais da região estavam anos-luz à frente. Ali ainda se usava filme fotográfico, enquanto a maioria já usava as “digitais”. A única coisa que prendia todos naquelas condições, era que o Velho pagava em dia, e devido a Imprensa atravessar uma crise de 12 anos... Sempre foi melhor pingar, do que secar.
- Então Gabriel!
O velho transpirava forte, sua camisa de linho, azul escuro, estava verde em alguns pontos. Uma paisagem tão nojenta, quanto o seu hálito.
- Bem, Dr. Freitas. Mais um acidente!
- Só isso?
- Sim. Aquela pista está muito perigosa...
Gabriel passou pelo velho, como se quisesse esconder algo. Mas a raposa, era viciada.
- Bem, então você já pode me devolver o filme e a máquina, não é mesmo? Eu preciso fazer alguns testes.
O jovem repórter suspirou.
- Tudo bem! Tirei algumas fotos lá... Acreditei que fosse dar alguma coisa.
- Escuta filho! Você saiu daqui duas da tarde, voltou agora, e ainda me diz que tirou fotos de uma coisa que não vai dar em nada?
- Sim! É isso!
- Acredito que não temos mais espaço aqui pra você! Os garotos ficaram a tarde inteira escrevendo boas histórias. Olhe pro Mendes, ele fez do concurso de culinária, uma boa leitura. Agora, ser jornalista, não é sempre ter um escândalo em mãos, ou uma fita contendo políticos corruptos roubando dinheiro público, ou algo assim. Às vezes, o trivial serve. Desde que você chegou aqui, só pensa no tal eixo, o que é isso? Aqui não é o “arquivo x”
Gabriel sentiu-se aliviado, ainda não era o momento, mas ficou feliz em ter sido demitido.
- Entendo o senhor. Vou arrumar minhas gavetas.
- Mas, antes disso, dê-me o filme...
- Não! Desconte o valor dos meus honorários, mas o filme fica comigo!
O velho Freitas coçou sua cabeleireira tingida e uivou algo. Andou por alguns instantes na direção de sua sala, deu meia volta e fuzilou o Repórter com o olhar.
- Ok! Leve seu “filminho”.
Freitas se isolou em sua sala, pelo resto do expediente (que já estava acabando). Gabriel viu a situação, olhou pro boy da redação e o mandou revelar o filme.
- Na conta do “Dia”, é claro!
Quarenta minutos depois, o rapaz voltava com um pacote na mão esquerda e uma esfiha na direita.
- O rapaz da Revelação disse quem tem R$ 60,00 seus lá, e já estão vencidos.
- Ok! Depois eu acerto.
O boy lhe entregou o envelope e se afastou. Gabriel foi até sua sala, na verdade um cubículo 2x2, e por lá ficou. Ao entrar, ele olhou pra trás e observou seus colegas trabalhando na redação. Aquele seria o último contato de ambos.

- Alô! Preciso de uma ambulância!
- De onde é senhor?
- Aqui da redação! Tribuna do Dia. Temos uma pessoa passando mal. Acredito que seja enfarte.
- Ok. Já vamos mandar uma.

Plínio, o E.I.X.O e o churrasco



A seca de 2006, consumia o Cerrado, os focos de incêndio, acompanhavam a margem da rodovia. Eram comuns, placas informando ao motorista pra não jogar bitucas de cigarro na pista. Mas definitivamente, isso não era seguido.
Márcio já não agüentava mais dirigir. Suas pernas pediam descanso, já estava ali sentado, há 7 horas. Passando por Jataí, ele teve um alento.
“Só mais 60 km”.
Seus pensamentos se concentravam na sua esposa que havia ficado em Campo Grande. Devido ao descompasso de horários de trabalho, não puderam viajar juntos naquele dia.
Quanto ao seu trabalho, ele sentia-se levemente tranqüilo, havia deixado a sua equipe bem instruída, quanto a posições, clientes e decisões, afinal, ele só ficaria uma semana longe da empresa. E bastava uma ligação, que ele poderia resolver algum problema operacional.
Era o primeiro encontro da antiga turma do ginásio. Alguns amigos ele não via há anos, e a expectativa de um bom churrasco, lhe animava. Porém, ele teve que ir, até Goiás, em Rio Verde, pra buscar, um dos remanescentes da turma de 1993; Tiago. Eles haviam feito uma aposta, e como Márcio, havia perdido... Teve que dar carona, ao antigo colega.
Os dois haviam combinado um lugar comum; a rodoviária da cidade.
Márcio pegou o último retorno e entrou na cidade, muito bonita e movimentada, por sinal. Após algumas perguntas e enganos, enfim ele encontrou o acesso à rodoviária. De longe ele avistou Tiago, sentado num banco, com duas mochilas. Por um momento, lembrou dos tempos de escola:
“Bons tempos era só estudar, e jogar bola...”.
Realmente eram bons tempos. Nada de preocupações com casamento, trabalho, filhos. Era um ócio total.
- Fala fio!
Com algumas buzinadas, Márcio estampou um sorriso. Com um abraço, os dois se reencontraram, já fazia muito tempo que não se viam. Só alguns contatos por “MSN”, ou “orkut”.
- Então, Marcinho! Quanto tempo heim?!
- Poxa, é mesmo. A gente ficou velho. Você tá um lixo!
Tiago gargalhou alto, realmente algumas rugas, já lhe eram notadas...
- E você? Cadê o lutador de “taikondo”?
- É mesmo. Ele morreu!
Márcio já sentia seu corpo pesado. As muitas cervejas haviam deixado a silhueta de atleta para trás.
Os dois tomaram algumas cervejas, almoçaram e falaram sobre a vida. Tiago comentou de sua separação, disse que foi o melhor jeito de resolver algumas diferenças, mas sentia muitas saudades de seus dois filhos. Márcio lamentou aquilo, e pensou em sua esposa.
- E você, Márcio? Não tem filhos?
- Ainda não! Ta cedo né!?
- É. Cada casal tem seu tempo.
- As vezes pensamos em ter, mas não temos casa ainda. Quero um pouco mais de tranqüilidade.
Os quarenta minutos de almoço foi bom pra relaxar, espairecer. Já se passavam das três da tarde, quando decidiram pegar a estrada. Seria uma longa viagem, mais de 1000 km, até Rancharia.
- Vamos nessa então, Tiago?
- Vamos sim.
Em 35 minutos, já estavam na BR-364, Márcio mantinha uma velocidade média de 110 km p/ h., com seu GM Astra. Tiago, nessa altura, já dormia. A picanha havia caído muito bem.
- Acorda rapaz!
- O quê?
Tiago meio desnorteado, abriu os olhos vermelhos.
- Cara, preciso dormir.
- Que nada! Não durma. Fica acordado aí, pra gente conversar, estou morrendo de sono também.
- Ok! Você sabe de alguém daquela época, que já morreu?
- Acho que não. Mas, tem alguém?
Tiago fez a pergunta por fazer, na verdade, foi a primeira coisa que veio em mente. Ele se acomodou no banco e despertou.
- Então. Eu acho que tem sim, mas não me lembro do nome. É um cara.
- Foi do quê?
- Não sei. Ouvi dizer que ele ficou internado um tempo.
- Ah! Meu pai me disse. Parece que ficou louco. Mas não sabia que ele tinha morrido.
- Como era o nome dele, mesmo? Ele morava lá na Granja.
Alguns nomes foram citados, mas ninguém se lembrou, apesar de serem da mesma época, não eram da mesma “panela”.
- Meu pai me disse que sumiram duas primas dele. Aí a polícia investigou, mas não achou nada.
- Estranho, né?
- O mais estranho foi quando ele sumiu ou fugiu, não sei. Pensa bem, o cara é estranho, as duas únicas pessoas que moram com ele, desaparecem, e depois ele foge... Ficou fácil pra polícia resolver o caso.
- É, ele não participava de nada na escola. Mas, assassino?
- Sabe lá, isso foi em 2001. Depois ele se entregou e acabou condenado. Tinha um lance que ele só falava de “eixo”, algo assim, ele só falava disso. Foi baba pro promotor.
- Eixo! O cara tava doido mesmo.
- Se eu não me engano, as meninas desceram do ônibus e ninguém mais viu.
- Uma pena, talvez o cara nem fez nada.
- Quem sabe?
- Quando chegar lá, a gente toma uma por ele!
- Isso mesmo, Marcinho.
- Olha lá, estamos perto de Minas.
Uma placa no acostamento dava as distâncias para Uberaba e Uberlândia. Logo depois de São Simão, já era a fronteira entre Minas e Goiás.

Um celular Nokia vibrava em cima de uma cômoda. Na cama ao lado, um corpo repousava, imóvel, como se fosse um cadáver. Debaixo do edredom, Tiago ouviu o barulho e atendeu.
- Alô...
- Tiago? Onde você está?
- Hã!
- E o churrasco, estava bom?
- Churrasco? Que dia é hoje?
- Doze de Agosto. Era pra você ter voltado a trabalhar anteontem!
Tiago pensou um pouco, tentou se lembrar. A única que lembrava era de estar na estrada, onze dias antes.
- Tiago! Acho melhor você voltar depois do almoço. Ok?
- Sim, eu volto.
Com as mãos na cabeça, tentava recordar algo. Ligou pro seu pai, mas não atendia. Sua mãe estava com o celular desligado.
“Onde eu fui? Talvez o Márcio me explique isso”.
Dos muitos porres que já havia tomado, Tiago sempre se lembrava das situações, locais. Mas nunca houve um caso, onde havia se esquecido dos últimos dozes dias de sua vida.
- Alô! Márcio!
- Fala fio. Melhorou?
- Do quê?
- Do chilique.
- Cara, fala sério!
- Ué, você não se lembra?
- Lembra de que?
- Me fez ir até aí, pra depois dizer que não ia mais ao churrasco. Disse que não estava bem.
- Ah! Pára com isso. Chega de zoação!
- Cara, você realmente não está bem. Ah! Você se lembra do Plínio, que morava na Granja?
- O nome dele era Plínio! Isso mesmo...
- Então, o encontrei em São Simão, tá trabalhando num posto.
- O cara que morreu? O que matou as primas?
- Eita! O que voce anda bebendo? Tá num delírio só.
- Ah! Vai se foder!
Tiago não assimilava mais nada, desligou o telefone e decidiu dormir o resto do dia. Pensou estar sonhando e queria acordar logo...

O Silêncio

terrível silêncio; maldito
terrível momento que fui infame;
agora o que passa?
agora o que vem...


sou a Maria Madalena... a vagabunda,
me sinto assim agora.
por ter perdido a Maria.
terrível silêncio; amaldiçoado seja...


23 minutos que você foi,
pra nunca mais voltar;
pra nunca mais chorar...
perdi a Paz, perdi a mim mesmo.


o que eu faço?
pra quem eu choro...
pra quem eu digo...
o poeta está devidamente sepultado;
sob um pinheiro;
sob uma oliveira.


terrível silêncio; me consome
23 minutos atrás eu vivia;
22 minutos atrás eu morri.

Happy End

Cá estou, maltrapilho...
cá estou, cansado e com fome.
todas... o que são todas?
eu não consigo mais, mulher.


você quer isso;
você sente isso;
você quer isso?
vamos, sejamos sinceros.


é preciso isso... confiança nos meios;
que nos levam àqueles fins.
pedras doentes... habitam meus rins.


um copo de leite,
um copo de leite,
preciso do aço da foice...
que apóia o sonho,


me ilumina Senhor


onde quer que vá...
sejamos sinceros;
sejamos discretos;
seremos felizes...


no final do trajeto.
uma guerra dentro de mim;
uma vida que chega ao fim...
não há nada mais que me afague;
o x-burger não foi com a cara do Prozac.

Um clichê!

me falaram no interfone...
ainda lembro... daquela voz.
infelizmente... não mais
volte semana que vem.
estamos em recesso.


mas quem fez aquilo?
sinto falta do ar condicionado;
dos formulários mofados;
daquele decote... caído.


e agora? só me resta a saudade.

A Cavalgada de um Homem sem Olhos

aonde vais?
já não pode fazer isso...
está velho, quase cego...


aqueles sete anos... nos consumiram.
quem diria, heim?
um poeta tu virastes!
parabéns, o cogumelo na minha boca,
se contorce.


aonde vais?
já não tem mais ânimo.
já não tem mais tesão.
está manco e quase velho!


com quantas letras, José?
e agora, aonde vamos...
cansados, cúmplices...
mortos de fome.


o que eu faço?
o que eu faço?

Assassina - Vol. 4

sua faca continua acesa!
seus olhos ainda me consomem;
sabe, eu não ligo mais.
foda-se tudo.

lembro de ver alguém ali,
passando aquela pomada no rosto;
quem era aquela menina?
sabe, eu não ligo mais.

não tenho mais medo;
nem dor, nem receio.
apenas lamento sua agressão.
covarde, traiçoeira; como seus meios.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Mariana

Você veio depois da noite,
Uma noite ruim e amarga...
Seu sorriso com falhas;
Suas perguntas tão claras.


Não entendo o motivo de te merecer;
Você veio e me faz bem;
É minha mãe, e minha amiga...
Antes de você vir, eu quase perdi o trem.


Ainda tenho aquela roupa velha;
Mas você a lavou e a engomou.

Quem foi?

Quem foi que passou aqui?
Deixou seus brinquedos quebrados...
Seus sonhos enferrujados...
Não sei ao certo, mas ainda está aqui.


Aquele vinho continua guardado;
Esperando sua boca;
A minha boca continua seca...


Quem foi que passou aqui?
Levou tudo o que eu tinha...
Meu cão, meu pássaro, meu...
Devolva minhas lágrimas...

Aquela faca continua afiada,
Se pudesse aplaudir, o faria...
Mas meus pulsos perderam a sensação.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Bola de Carne

Ontem, ainda pela noite eu caminhei,
Carreguei algumas coisas,
Aquele livro de auto-ajuda, e meu bule...
Vejo que tudo o que eu sonhei,


Suas roupas ainda estavam na cama,
Aquele vestido de 15 de março,
Um belo vestido verde, ainda lhe cai bem...
Prometi não falar do que eu acho.


Lembra-se do Vizinho chato?
Dos seus cães barulhentos?
Eles não são mais problemas...
Uma bola de carne, com vidro moído.


Chamaram até a Polícia,
Mas fique calma, tenho um álibi...
O nosso Duque também comeu.


Estou de saída, deixo suas coisas com a Dona Lúcia,
Preciso de um tempo...
Seu vestido novo, teve um dano...
O laço eu tive que rasgar,
Nosso Duque não morria nunca...

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Assassina - Vol. 1

isso é certo?

usar essa arma tão covardemente...
um arpão arderia menos...
uma faca cega, ou um tridente.

esse ser é tão fraco,
covarde... em vão,
não faz mal a ninguém...
(só a si mesmo)

ainda não acredito em tudo isso...
quando descobri, fiquei pasmo.
você ainda não me disse...

A Porta do Inferno

diziam os grandes:
que sangrar em vão, por amor...
cabia aos tolos...
diziam os sábios:
a ignorância adoecia o homem,
o fim de tudo, não estava num livro...
e sim na falta dele.
diziam os bravos:
que o ardor da espada,
só os fracos temiam...
a verdadeira dor era temer a sua consequência...



você me disse ontem:
"também queria te amar"



diziam os fracos:
um herói morto, não vale a pena...
diziam os românticos:
amar por dois é possível...
o difícil é não amar...




disse o Diabo ao homem:
ser pequenino, ame, ame a todos...
ama a sua vida toda...
assim seu coração amolece, e sua carne fica mais tenra.