Mesmo não sendo uma pessoa que sentisse ou sofresse, Juliano realmente havia tentado ser amigo de Ruben, mas o comportamento arredio do “velho” era algo impossível de se penetrar.
A testa do jovem delegado ardia em sangue, ainda tonto pela pancada, talvez uma calota do Santana, ou qualquer outro estilhaço, da explosão.
Depois de alguns minutos os Bombeiros, chegaram ao local, podia se avistar a distancia a nuvem de fumaça que cobria o pátio da Delegacia. Juliano se levantou e tentou recobrar os sentidos, se escorando em uns dos carros, pôde ver o seu VW Gol 2003, com o pára-brisa estilhaçado, mas ele lamentaria aquilo depois.
Um homem do Corpo de Bombeiros se aproximou:
- O que houve Doutor?
A cabeça de Cláuddio estava zonza, ele tentou falar algo, mas não conseguiu.
O Bombeiro iniciou suas instruções:
- Bem, acho melhor o senhor se sentar ali... Hei! Atendimento! Aqui temos uma vítima!
O Bombeiro ainda tentava imaginar, conspirar, mas nada dos seus 20 anos de experiência podia lhe ajudar.
- “será que foi algum atentado?”.
Após correr o olhar pela cena o homem olhou para Juliano e se apresentou:
- Sou o Sargento. Souza, do Corpo de Bombeiros.
Nessa altura, os outros Investigadores já estavam a postos, com suas armas prateadas, desfilando pela rua que dava acesso à Delegacia. Haviam alguns homens deitados no chão e sendo “revistados”, mas eram os pedreiros que trabalhavam na obra ao lado. Como sempre, a Polícia, demonstrava despreparo, em situações extremas.
O teto branco seguia com suas luzes fluorescentes e alguma coisa lhe picava o braço. Talvez uma seringa, ou soro. Uma coisa é fato, o ferimento na testa de Juliano, era muito grave.
- O que houve enfermeira?
- Uma explosão na Delegacia, parece que o Doutor Ruben tentou se matar dentro do carro...
- Não foi isso, não foi.
- Deite-se, o senhor precisa de cuidados.
Juliano estava voltando ao normal, percebeu que se encontrava no hospital, sua cabeça; estava enfaixada e ele já não sentia tanta dor. A maca onde ele estava adentrou num quarto, ele ouviu choro de criança ao fundo. Uma boa sensação lhe cobriu o corpo, a dor havia amenizado e uma moleza súbita o tomou, sua visão ficou turva e ele apagou.
O sol escaldante consumia a vasta calvície do Sargento Souza, dois Investigadores ainda faziam ronda como Militares, ao invés de tentar averiguar possíveis causas pra explosão do veículo. Souza olhou em volta do Santana já sem chamas, não havia sinais de projéteis, combustível ou nada que pudesse causar faísca ou incêndio, só um espectro dentro do carro, um corpo carbonizado.
O que mais lhe chamou a atenção foi um gemido ao fundo, vindo de trás de uma GM Blazer...
- Arrrgh!
- Eu não acredito!
Ruben Rossi rastejava com o braço esquerdo ensangüentado. Tentava balbuciar algo:
- Meu braço...
- Doutor, cuidado! Deixa “eu” ajudar o senhor.
Uma ferida cobria o braço do Delegado, profunda e retalhada, como se algo tivesse sido arrancado de seu corpo. Aquela cena assustou o Bombeiro, mesmo que já tinha visto todos os tipos de mutilações possíveis e impossíveis.
- O que aconteceu?
- O seu carro, ele... Explodiu de maneira súbita...
- Mas, como assim? Você viu alguma coisa?
- Não! O pessoal lá de dentro, ouviu a explosão, mas... Mas o senhor estava lá dentro?
- Acredito que não... Hahahaha!
Uma gargalhada foi ouvida.
- Se eu “tivesse” lá dentro, estaria morto... Ai meu braço, preciso de socorro!
Outra ambulância que estava no apoio, levou o Delegado até o Hospital. Souza não entendia o que havia acontecido. Do local da explosão ao onde Ruben estava deitado, havia uma distancia de uns 15 metros. Pra ele ter sido arremessado ali, o seu corpo teria que romper o capô do carro, e isso não aconteceu, nem sua estrutura óssea agüentaria.
Souza se perguntou: “de quem é o corpo lá dentro, então”?
- Sargento, o que o senhor me diz?
Um homem de meia idade estendeu a mão e cumprimentou o Bombeiro, trazia consigo um rosto surrado e forte hálito de café.
- Me desculpe, sou o Investigador Najas, trabalho nesse “DP”.
- Ok, ao que tudo, houve falha elétrica. Não existe nenhuma outra causa plausível, nesse momento. O carro é à gasolina comum... Muito estranho, talvez o calor... Não sei, a Polícia Técnica poderá esclarecer isso melhor.
- Bem, vamos ver né!
O Sargento sentiu certo descaso nas palavras do Investigador. Após isso, ele viu que não tinha mais nada a fazer ali.
A notícia logo correu, no Hospital, moradores buscavam notícias sobre a liderança da Polícia Civil, da cidade. Em meio ao tumulto, um braço forte conseguiu chegar até a portaria.
- Perdão senhor, mas não poderá entrar.
- Que pena, mas preciso ver um paciente. É realmente urgente.
- Terá que voltar na quarta-feira.
- Olha mocinha, você é tão gatinha, poderia me deixar entrar. Ninguém precisa saber, será um segredo nosso.
A jovem recepcionista olhou o homem, com um misto de nojo e pena...
- Já lhe disse, só na quarta-feira!
- Bem, não tenho escolha. Faça-me um favor, entregue isso a ele. O seu nome é Ruben Rossi.
- Ah! O Delegado. Entrego sim.
Um envelope amarelado, com certo peso. Havia uma etiqueta: “A/C R. Rossi”.
- É sobre um assunto muito importante.
- Ok, será entregue assim que ele estiver em condições...
- Muito obrigado, e desculpe a insistência.A moça voltou a analisar o homem, e viu que era um “bom partido”, ela tentou ser amável, mas ele já caminhava pra fora do Hospital
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